domingo, 28 de junho de 2009

Notas de um viajante (1906)

A cidade é o objeto de múltiplos discursos e olhares, que não se hierarquizam, mas que se justapõem, compõem ou se contradizem, sem, por isso, serem uns mais verdadeiros que os outros" (PESAVENTO, 2002, p. 9)

Iniciamos, hoje, a transcrição de relatos escritos por alguns viajantes que passaram por Currais Novos e deixaram suas impressões sobre vários aspectos da cidade, do seu cotidiano etc; estes viajantes ou visitantes podem ser anônimos, pseudonímicos ou notórios cidadãos. O presente texto é assinado por CYRANO GIL, que, ao iniciar sua descrição faz uma breve auto-apresentação.

Notas de um viajante

"Caixeiro viajante de uma das principaes casas da praça de Pernambuco, lembrei-me, ao pisar o solo pedregoso e quente do legendário Siridó, de tomar, em minha carteira a viagem, notas a lapis das impressões da viagem e dal-as á publicidade. São ellas que se seguem".

Curraes-Novos:

Foi o ponto do Siridó onde primeiro cheguei. É uma Villa aprasivel edificada sobre uma meia collina a margem do rio Maxinaré.

Bella matriz, importante casa da Intendencia em conclusão, e um Mercado, se tal nome se pode dar a duas alas de mal edificados quartos a inutilizar o alinhamento de uma de suas principaes ruas, são os seus mais importantes edificios.

Para o septentrião avista-se como uma muralha azul, a tradiccional serra de Sant´Anna - bella e magestosa a enlevar a vista.

Falla-se muito em progresso, (e por signal tem um jornal "O Progresso"), mas parece que o progresso é mais fallado do que executado.

Muito ciosos das antigas tradicções orgulhão-se demais de descender do Capitão-Mor Galvão, o fundador da Villa e matriz.

O Chefe local, Coronel José Bezerra, é idolatrado pelo seu povo, que não move uma palha sem ouvil-o.

De opposição só se encontra a semente e essa mesma torrada; não germina.

Muito negócio, muito dinheiro, muita novidade n´"A Realidade" do Manoel Aleixo e dois jornais periodicos "A Voz Potyguar" e o "Progresso", eis tudo o que de mais importante encontrei.

Fui hospede de Luiz Brandão que é desses que chama a quem passa para dar café com queijo e, depois de dois dias, segui para FLORES...

Fonte: Jornal A VOZ POTYGUAR, 09/12/1906, ano II, nº 102, p. 1-2.

Cyrano Gil continua seu desiderato de cronista descrevendo suas impressões sobre as cidades deFlores (atual Florânia), Acari, Jardim do Seridó e Caicó; infelizmente, não dispomos do texto obre a cidade de Caicó, devido o acervo das edições do jornal A Voz Potyguar não está completa.
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Bibliografia: PESAVENTO, Sandra Jatahy. O imaginário da cidade: visões literárias do urbano - Paris, Rio de Janeiro, Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 2002.

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